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Searas Vermelhas de Abril
Francisco do Ó Pacheco
«Uma estrondosa salva de palmas ecoou no espaço da sala do cinema. Parecia que o tecto ia desabar. “Bem dito. Bem dito. Assim é que se fala!” O presidente da liga também aplaudiu, assim como todos os elementos da mesa. Todos sabiam e conheciam duramente a veracidade daquelas palavras. Os anos, e já eram muitos, desde que a fábrica iniciara a sua laboração e as angústias e frustrações engolidas secamente vinham de repente à superfície da memória. Olhavam as mãos duras e calejadas e sabiam do vazio das carteiras e das contas bancárias. Anos e anos de trabalho para quê? Sempre na expectativa, falsa, ilusória, que tudo iria correr melhor um ano qualquer dos que ainda estavam para vir. E sempre tudo correndo mal. Ah, mas agora não. Agora era tempo de as coisas mudarem. O 25 de Abril também teria que chegar aos campos do Alentejo.»