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Das Origens
Pedro Estorninho
Pedro Estorninho diz nestes contos a bestialidade que habitou o país durante os consulados sinistros de Salazar e Caetano, em particular o Alentejo e o seu povo, ferindo-os com estilete mais fundo e demoradamente do que em outras parcelas do território. Também os sabores, os cheiros, a telúrica imaginação e as manhas que permitiram a esse povo sobreviver e resistir à fome, à violência árida da terra e dos algozes, à ganância dos agrários. O abandono, a solidão que as grandes distâncias acentuam, um sufoco sob inclemente sol, os velhos, que são bibliotecas vivas, povoando uma paisagem desolada e agreste, de cardos e estevas, onde a chuva não cai. Chão magro onde as crianças «nascem por engano». O latir dos cães a inquietar a placidez do montado, as sevícias da PIDE num Alentejo a ferro e fogo, sombras de delatores, ignomínia e morte, mas também de coragem, de homens íntegros degolando o medo e inventando, com a frágil argamassa das noites de sonhos colectivos justos, o futuro possível.
Do prefácio de Domingos Lobo