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1.º de Maio do nosso DesconfinaMente

30/4/2021

 
«Companhia (i)limitada» João Pedro Mésseder

Maio na Alameda

p’ra dizer ao sim um não.
Não ao vírus do medo,
não ao fado do inevitável,
não à santa submissão,
não à liberdade cercada,
não ao trabalho sem lei,
não ao engano, ao verbo inchado
(dos mui hábeis mandatários
e titulares do capital),
não ao homem dividido
e ao silêncio provocado,
não à ordem que é desordem,
não ao caos organizado,
não à verdade aparada, mirrada
(confinada?).

Maio na Alameda, 1.º de Maio:
coreografia que é ordem,
e que é força e criação,
uso novo de antigas palavras:
trabalho, justiça e pão.

João Pedro Mésseder, Companhia (i)limitada

Imagem
No dia 1.º de Maio sentou-se sozinho à mesa da sala de jantar e almoçou.
Um prato de sopa de aipo, três fatias de lombo de porco assado, duas colheres de arroz branco com passas; aquecera tudo no fogão, nunca usara o micro-ondas. O vinho fora um tinto reserva de 2016 Encostas do Enxoé. No fim um pequeno queijo de Azeitão, para acabar o vinho.
Levou da mesa pratos, talheres e copos, e foi deixá-los dentro do lava-louças.
Na casa de banho lavou os dentes.
Depois abriu o armário dos artigos de farmácia e pegou numa máscara, voltou-se para o espelho sobre o lavatório e colocou-a; não gostou de se ver com ela, tinha de ser.
Foi ao quarto vestir o casaco e ao cabo de não sabia quantos dias enclausurado saiu de casa, não chamou o elevador, desceu as escadas, atravessou o átrio do prédio, abriu a porta para a rua, pisou o passeio.
Tempo razoavelmente primaveril, caminhou num passo seguro, sem pressa, tronco direito, cabeça erguida, a olhar para diante, subindo a Sidónio Pais, virou à direita na direcção da Igreja de S. Sebastião, ladeou o Quartel-General e seguiu pela Duque d’Ávila, ultrapassou o Arco do Cego, desceu pela Rovisco Pais até chegar à frente do Técnico, trajecto que lhe era familiar, poucos os novos prédios, mas enormes, as árvores também poucas as acrescentadas; durante seis anos, no tempo de aulas, subira e descera diariamente aqueles degraus do Instituto, depois contar-se-ia pelos dedos de uma mão as vezes que o voltara a fazer.

Parou e voltou-se para o outro extremo da Alameda onde se encontrava a grande fonte.
O relvado pontilhado por muitas pessoas e bandeiras dispersas. Música.
Pela primeira vez na sua vida assistia in locu a uma comemoração do 1.º de Maio, sui generis.
Alguns colegas seus tinham corrido a fugir da Polícia de Choque no 1.º de Maio de 1962, muitos dos seus conhecidos e amigos desfilaram no 1.º de Maio de 1974.

Encontrava-se agora ali porque lhe tinham até contado estórias com morcegos e porcos, mais fantasiosas do que a da carochinha e do João Ratão, mas não lhe deram nenhuma resposta credível à pergunta que anteriormente colocara: como, em que circunstâncias se desencadeara a pandemia?

Entretanto, porém, assistira ao medo a apoderar-se repentinamente das pessoas, a alastrar como uma vaga do mar que galga dunas e se infiltra em todas as fissuras da terra.
A pergunta crucial passou a ser outra: como resistir?
Estava ali para aprender a reagir e sentir o gosto de viver.

Sérgio de Sousa, A pergunta a que não lhe responderam

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