A biografia literária de Soeiro Pereira Gomes

Acaba de sair o livro Soeiro Pereira Gomes – Uma Biografia Literária, de Giovanni Ricciardi. Trata-se, nas palavras de Urbano Tavares Rodrigues, autor do prefácio à primeira edição, de «uma honesta e aplicada investigação, tendo ao mesmo tempo a vivacidade, o colorido, o empenhamento afectivo do romance de uma vida».
Nesta obra, Giovanni Ricciardi apresenta-nos a vida de Soeiro Pereira Gomes, de Gestaçô, no concelho de Baião, passando por Espinho e Coimbra até chegar a Alhandra, onde começa a sua actividade literária, que se cruza com uma intensa actividade cívica e política, até tomar a opção de escrever o mais belo romance: o «romance da sua vida clandestina», como lhe chama Alexandre Cabral.
Através das suas obras, mas também de depoimentos e de vasta correspondência, compreende-se melhor quão interligados estão os percursos biográfico e literário de Soeiro Pereira Gomes e como nasceram obras maiores da literatura portuguesa, como Esteiros​.
Giovanni Ricciardi, professor e autor de vasta obra sobre a literatura portuguesa e brasileira, deixou-nos a seguinte nota para a edição que agora se disponibiliza de novo aos leitores:

Alguns meses antes de publicar esta biografia literária (1999), visitei Manuela Câncio Reis, a esposa do escritor,  que  se encontrava numa casa de idosos em Paredes. Já a tinha encontrado uma vez anos antes. Perguntei-lhe se tinha algum documento que me podia dar antes de eu fechar o trabalho, e ela: «Tenho, mas não dou, porque vou eu escrever a biografia!»
Esqueci-me do encontro até 2007, quando saiu A Passagem. Uma Biografia de Soeiro Pereira Gomes, um complemento de Eles Vieram de Madrugada, 1981, o primeiro livro que Manuela dedicou ao marido.
A Passagem está comigo, cheio de notas, pontos de interrogação como a pedir mais detalhes, sublinhados ressaltando momentos notáveis e  conhecidos, destaque de pormenores, quase a me dizer: poderia tê-lo acrescentado ao meu trabalho… Mas o que eu teria mesmo gostado de ter ou pelo menos de ler eram alguns documentos acerca da fé republicana de Pereira Gomes, que encontrava um eco em Francisco Felipe dos Reis, pai de Manuela, como esses «Versos soltos» por Soeiro enviados ao mesmo em 24-12-1931, por ocasião do Natal, que terminam com um Post Scriptum interessante e relativo monograma como assinatura:
        
          PS: Cumprimentos para todos  
                  Boas festas e fortuna  
                  E faça por converter  
                  O seu genro à Ditadura
                                                            Sal e Azar!
     
Vejam só: Sal e Azar (Salazar) convida Francisco Felipe dos Reis a converter à Ditadura o Pereira Gomes!