Assinala-se hoje o Dia Internacional do Livro Infantil. Homenageando Hans Christian Andersen, cujo aniversário se comemora também hoje, este dia tem também a feliz coincidência de ser sempre depois do Dia das Mentiras: uma bonita forma de dizer que as crianças e a verdade andam de mãos dadas. A Página a Página, que conta com três livros infantis no seu catálogo (Os Barrigas e os Magriços, História de Um Gordo Chinês Que Estava de Barriga para o Ar, O Burro Tinha Razão), quer também marcar a data, transcrevendo um excerto do artigo de Ana Margarida Ramos publicado na Vértice 188 sobre os livros de Álvaro Cunhal e Susana Matos, mas que pelo caminho valoriza justamente a edição de livros para a infância em Portugal. Nos últimos anos, a ilustração de livros para a infância conheceu, em Portugal, à semelhança de outros países, um crescimento e uma visibilidade ímpares, com impacto internacional relevante, ao nível da obtenção de prémios e distinções de vários tipos, a presença em vários tipos de certames e convites para eventos variados. O aparecimento de um conjunto muito significativo de jovens ilustradores, com formação académica nas áreas do Design e/ou das Artes Plásticas, em Portugal ou no estrangeiro, alguns com especializações na área da Ilustração, é revelador do profissionalismo e da exigência cada vez mais evidente que caracteriza este meio.
A valorização cada vez mais significativa dos elementos peritextuais, como o formato, o papel, a capa e a contracapa, para além das guardas e da folha de rosto, por exemplo, articulados com o conteúdo, é reflexo desse labor que entende um livro infantil como um artefacto plurissignificativo e multiforme, e a leitura como uma processo interativo e em diálogo constante com um objeto artístico. A erudição estética de algumas propostas não é incompatível com ludicidade que as caracteriza, explorando os limites da leitura também entendida como um jogo e um desafio. A articulação muito próxima e perfeita entre linguagens diferentes (texto, ilustrações e design gráfico), o cariz experimental das publicações, observável na complexidade crescente das propostas oferecidas, com proximidade ao universo pós-moderno (jogos intertextuais, presença de implícitos, ilustração como contraponto, recurso à mise en abîme, à metalepse, à metaficção, à paródia, à hibridez genológica...), a multiplicidade de formas e formatos, com um investimento acrescido na diversificação da materialidade, em resultado de uma «efervescência» criativa, e a valorização de obras crossover ou dual adressee, com propostas de leitura destinadas a um público muito amplo, são algumas das tendências da melhor produção literária portuguesa da atualidade, em sintonia com o desenvolvimento global deste subsistema literário. Boas leituras a todos os miúdos e a todos os graúdos! Comments are closed.
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