Decorreu no salão do Centro de Trabalho Vitória do PCP, em Lisboa, no passado dia 25 de Outubro, uma sessão de apresentação de O Rei Lear, de William Shakespeare, com tradução, notas e ilustrações de Álvaro Cunhal. A apresentação esteve a cargo de Bruno Bravo, actor e encenador, que levou à cena a peça no Teatro Nacional Dona Maria II em 2017. Esta peça em particular é, na sua opinião, para ser encenada mas também para ser lida. E também nesse aspecto, a tradução de Álvaro Cunhal é marcada por uma elevadíssima qualidade, porque demonstra simultaneamente o domínio da língua de partida e o domínio da língua de chegada, além do conhecimento profundo de Shakespeare, dos seus textos e versões, e de estudos sobre Shakespeare. É um texto que se dirige a todos – a quem conhece Shakespeare e a quem não conhece, a quem vai ao teatro e a quem não vai. Tudo isto é ainda mais impressionante quando se juntam as circunstâncias de Álvaro Cunhal ter realizado este trabalho no isolamento do Estabelecimento Prisional de Lisboa. Sobre a peça em si, e sobre a razão pela qual recaiu sobre ela a opção de fazer uma tradução, Bruno Bravo adiantou algumas hipóteses: a dimensão política da peça, o papel da verdade e da mentira, o retrato da condição humana e o que é necessário para o Homem continuar a ser Homem. E recorreu à fala de Edgar com que termina a peça para ilustrar a actualidade da obra: «Temos de obedecer à corrente destes tristes tempos; dizer o que sentimos, não o que deveríamos dizer». Comments are closed.
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