Nesta Primavera, os nossos livros saíram de casa, passearam pelo país e ganharam novos leitores e novas estantes. Abrimos o mês de Abril na Mexicana, em Lisboa, com a apresentação de Nascidos em Meados do Séc. XX - Bons Burgueses, com uma conversa que contou com o autor Sérgio Sousa e a jornalista Anabela Fino. É um livro sobre uma época e sobre uma classe que atravessa este século, separada pelo que cada um individualmente viveu e unida pelas experiências comuns: Em menos de uma década venderíamos o apartamento tornado pequeno pelo valor que nos faltaria ainda pagar mais o preço da entrada na compra de um maior, quantia que nunca juntaríamos se continuássemos a liquidar as rendas ao senhorio apenas arrecadando umas eventuais sobras mensalmente. Convenceu-me. Estaria condenado para o resto da vida a ir amortizando uma dívida existencial. A obra não se esgota, porém, nesta geração do século XX, atingindo uma dimensão que é partilhada por todas as idades e por todas as gerações, encapsulada na frase: «enquanto estamos vivos, tudo é possível». Dia 13 de Abril fomos ter com o autor Pedro Estorninho ao Armazém 8 em Évora. A paisagem profunda do Alentejo deu mote ao livro Memórias do Realismo Mágico ainda antes do autor e do editor o apresentarem numa conversa que expôs a cumplicidade que a criação de um livro potencia. Conversamos sobre a poesia que existe nos despercebidos rituais do quotidiano e na delicadeza de existir, ficando claro que estas estórias com tons de Sul são sobre um espaço e simultaneamente sobre todos. Se esta apresentação tinha sido adiada pelas portas fechadas e ruas vazias do confinamento, já Forjado no Caos foi seu filho. Falamos sobre esta experiência coletiva, descobrindo o que individualmente foi transversal a todos, sobre a vida e sobre a morte. Inês Leite pontuou a conversa com a leitura de passagens e de poemas que, de forma orgânica e conhecedora da obra, seleccionou à medida que o entusiasmo ditava o rumo da conversa. A conclusão? Que cumpramos o desejo do autor e tenhamos tempo para viver em pleno. Chegada sexta-feira, dia 14 de Abril, passamos do trabalho ao lazer com a apresentação do Coração Modelado em Labareda na Biblioteca Camões. Domingos Lobo, o autor, desafiou Gustavo Carneiro a trocar o jornalismo pelos romances e a embarcar na conversa. Manuel Diogo abriu a sessão como se abre este livro, com um poema, e partilhou com o público excertos que aguçaram a curiosidade pela obra e pela história do país. Uma expectante sala, composta de amigos e leitores, com memórias vividas que este diário histórico e ficcionado recupera, contribuiu para um final de tarde em que se recordou a vida no Portugal fascista, se falou de inocência e amadurecimento, bem como da arte que acompanhou e também impulsionou a resistência. E porque Abril é para recordar, celebrar e evocar, dia 15 estivemos na Biblioteca Municipal de Santo Tirso para a apresentação de Uma Pequena Luz Vermelha e outros poemas, com o autor João Pedro Mésseder e com a professora Maria Augusta Carvalho. À conversa juntaram-se os professores António Sousa, na declamação, Carlos Carneiro, na guitarra, e Ivo Machado, na voz. Foi uma sessão animada com música, leitura de poemas, rostos felizes e participada conversa em torno dos poemas e do 25 de Abril, essa luz vermelha de que o livro é feito: Há dias que nascem sem um nome A Biblioteca de Alcântara incluiu na sua programação das comemorações do 49º aniversário do 25 de Abril, «Abril é hoje: Luta, Resistência e Liberdade», Buenos Aires, Tempos de Paixão, obra simultaneamente ficcional e um documento da luta dos estudantes do Instituto Industrial de Lisboa. O grande relevo destes activistas na luta dos estudantes de Lisboa e na construção do 25 de Abril não deixa dúvidas de que a escolha foi acertada, portanto no dia 22 de Abril o autor Armando Sousa Teixeira, acompanhado de Lourenço Frazão e com Patrícia Alves a moderar, apresentou o seu livro. Da palavra escrita para a declamada, o livro ganhou uma nova dimensão através do Coletivo de Teatro Comunitário da Biblioteca de Alcântara que apresentou «Tempos de Luta, de Resistência... de Paixão», uma leitura encenada a partir da obra. Regressamos à Biblioteca Camões no dia 27 de Abril para apresentar o número 205 da Vértice, uma revista de âmbito cultural muito diversificado por onde têm passado autores de todas as áreas do saber ao longo dos seus 81 anos de existência. António Avelãs Nunes, Bernardino Soares e Domingos Lobo, autores que colaboram neste número, fizeram parte da mesa redonda que o apresentou. Falou-se de paz e da guerra aos povos, da saúde e da arte, do tanto que esta revista em si transporta. No dia 29 de Abril, no Fórum Municipal Romeu Correia, em Almada, apresentamos uma novidade: Maduro Maio e outros contos, de Nuno Gomes dos Santos. Esta é uma estória do tempo em que se juntavam, na noite de Lisboa e em lugares devidamente licenciados para os acolher, muitos dos que viviam a Utopia praticando-a, na amizade, na luta, no amor, no trabalho, na vida, em especial artistas, escritores, jornalista, alguns militares e gente que, na altura, era de aqui e de agora a tempo inteiro, vivendo intensamente o presente e acreditando, com fé, num futuro melhor, tudo fazendo para que esse futuro chegasse. A sessão, com apresentação a cargo de António Matos, vereador na Câmara Municipal de Almada, contou também com a leitura de poemas de Nuno Gomes dos Santos por Ana Isabel Santos e um momento musical interpretado por Vítor Paulo. E foi com essas histórias, que começam antes do 25 de Abril e vão até ao primeiro 1.º de Maio que Portugal viveu em Liberdade, que fechamos Abril e demos boas-vindas ao novo mês de Maio.
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