O mês de Março traz várias novidades literárias na Página a Página. As primeiras três são muito diferentes entre si, e vêm enriquecer colecções diferentes. Do professor António Avelãs Nunes chega um novo trabalho sobre Os Caminhos da Social-Democracia Europeia, um livro particularmente importante neste ano em que se realizam eleições para o Parlamento Europeu e tanto está em cima da mesa em relação ao futuro da Europa e da União Europeia. Como lembra o autor, «um grupo de economistas e universitários de todo o mundo, entre os quais James Galbraith, Stephany Grifith Jones e Jacques Sapir, pronunciou‑se nestes termos sobre esta "política de ameaça, de ultimato, de obstinação e de chantagem": ela "significa, aos olhos de todos, um fracasso moral, político e económico do projecto europeu".» Um «projecto europeu» que teve como grandes entusiastas os partidos socialistas e sociais-democratas do Velho Continente. «Às vezes, num rebate de consciência, arriscam assumir que a ‘Europa’ tem de melhorar»... Mas como conclui António Avelãs Nunes, «em regra, melhor Europa significa, para eles, mais Europa, o que, a meu ver, é apenas a certeza de pior Europa». De Modesto Navarro chega um novo livro de poemas que, ao atravessar Lisboa, Trás-os-Montes, a Reforma Agrária e a Prisão de Caxias, traz memórias do passado e esperanças de futuro, como bem retrata o poema «Pouco a pouco»: Grão de pó que o simples vento levanta posso resistir-lhe Com os outros formar uma montanha Pelo salitre do tempo entender o duro e às vezes árido que é viver Unir o simples vento A história está com os que transformam De Pedro Estorninho, que publica pela primeira vez na Página a Página, chega um novo livro de contos: Das Origens. O prefácio de Domingos Lobo apresenta na perfeição o que traz esta obra: «Pedro Estorninho diz nestes contos a bestialidade que habitou o país durante os consulados sinistros de Salazar e Caetano, em particular o Alentejo e o seu povo, ferindo-os com estilete mais fundo e demoradamente do que em outras parcelas do território. Também os sabores, os cheiros, a telúrica imaginação e as manhas que permitiram a esse povo sobreviver e resistir à fome, à violência árida da terra e dos algozes, à ganância dos agrários. O abandono, a solidão que as grandes distâncias acentuam, um sufoco sob inclemente sol, os velhos, que são bibliotecas vivas, povoando uma paisagem desolada e agreste, de cardos e estevas, onde a chuva não cai. Chão magro onde as crianças "nascem por engano". O latir dos cães a inquietar a placidez do montado, as sevícias da PIDE num Alentejo a ferro e fogo, sombras de delatores, ignomínia e morte, mas também de coragem, de homens íntegros degolando o medo e inventando, com a frágil argamassa das noites de sonhos colectivos justos, o futuro possível.» Comments are closed.
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